Eu Nietzsche vamos ao culto - parte 2

----------------------------------

Começou por Dó seguido imediatamente de Sí. Foi formidável, os primeiros acordes da canção que amo quebrou o silêncio daquele templo. Posso até reviver a sensação de erguer minha cabeça e pés para cantar "És a nossa estrela da manhã", Nietzsche, meu amigo e convidado, manteve-se sentado, acompanhando, creio eu, cada frase recitada, tentando entendê-las ou decifra-las. Eu nunca havia me questionado, ou mesmo analisado essa música. Por si só ela me tocava profundamente, invadia o meu espírito, me elevava até Deus. Mas Friedrich nunca foi dessas coisas, seu raciocínio sempre foi crítico e repleto de intelectualidade. Não posso dizer que ele é mais um desses racionalistas que surgem nos auditórios das universidades, ele é mais solto, se preocupa com coisas mais relevantes, como já falei ele se recusa a limitar a vida... uma real liberdade é o seu tema. Então chegamos ao meio dessa maravilhosa canção, olhei para baixo e ele seguiu o meu olhar, fiquei a me perguntar o que ele queria dizer, ou o que ele queria me perguntar, mas não demorou muito até que a música acabasse e ele me perguntasse sobre o modo que cantei a música... confesso: fiquei sem palavras e até constrangido com suas afirmações... como eu nunca tinha pensado nisso antes?? De fato eu ao cantar essa e tantas outras músicas, fecho os olhos inclinando para cima a minha cabeça. Sua fala foi clara..., estonteante: "-Não foi isso que ele ensinou." E, em como tantas outras situações de igual complexidade de reflexão minha espressão foi oO"
Como assim!? Ele? Perguntei, mesmo sabendo de quem ele falava. Como pode o "ferreiro que fez os pregos da cruz" falar com tanta propriedade? Ouve uma mescla de sentimentos em mim, não sabia se surpreendia-me e tentava aprender com meu novo amigo, ou se me ofendia por um questionamento tão inoportuno. A questão é que no final das contas, relembrando Zaratustra, um dos tantos profetas não citados formalmente pela Tenak, ele estava certo. Sua afirmação envolvia todos os dogmas cristãos, ensinados, aprendidos e defendidos por mim. Implicitamente ele me fez ver, que inconscientemente eu negava Deus ao fechar meus olhos, para egoístamente vê-lo...piff... ainda me pergunto como nunca pensei nisso. Foi a parti daí que todo o culto mudou para mim... sério... estava remotamente preso. Não conseguia fazer nda sem antes pensar e ter certeza que não ia ser criticado pelo ilustre visitante.
Louvores, orações e leituras bíblicas foram feitas.... coisas muito normais para liturgia cristã, mas estava faltando algo e isso dava-me um conforto temporário, já que se tratava da tradicional dedicação de dízimos e ofertas, a qual pensava eu o que será que o meu convidado falaria, e foi aí, que a "irmã" que nunca lembro o nome e que era a mestre de cerimônia da noite, anunciou o dito momento.
Ao som dos louvores e exultações de que Deus é fiel, foi que minhas pupilas registraram o momento ímpar de Nietzsche levantar-se e depositar eu sei lá o quê no gazofiláceo¹.

Santo Deus!
Não entendi N.A.D.A

Meu companheiro voltou, cumprimentou as pessoas sentadas a nossa frente com um aceno, sentou-se do meu lado, sorriu....

[e ainda continua]
----------------------------------------
¹ Não sabe? Consulte aqui: http://www.google.com.br

Esse conto terá de ser expandido, de três para quatro partes devido a minha incontinência em levantar questionamentos teológicos quanto a negação de Deus nos olhos fechados (pano inclusive para outra manga).


----------------------------
Read More...